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Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

quarta-feira

Dia 49 - Mesmo que não seja comigo


Agora te digo,
Que mesmo que tenha o amor que queres
Não é metade daquele grande que te entrego.
Podes ser quem és, e ames bastante
Mesmo que não seja comigo.

Mas não é tudo, nem só por isso
Não deixei de te querer um só dia.
Estou contigo mesmo longe de minha vida
Pela felicidade que você tem, que custe a minha.

Escrevirei poesias, andarei em outros braços
Fingirei que não há ninguem do seu lado
E acabarei sendo quem sou
Só pra enganar o meu coração.

E não é por apreço, inveja ou revelia
Queimarei essas palavras, me darei em corpo
Ficarei em brasa, só para cumprir minha vida.
Mas só, se estiveres comigo.

Assim, termina mais uma noite numa cidade ao sul do Equador.




terça-feira

Dia 48 – Primeiro Porre



Trabalhando aqui se tem muitos dias e noites de ócio. Nem todo mundo que bebe, bebe todo dia. Nem todo mundo que trabalha com bebida, vende o que não deveria beber. Eu só venho pra não me estressar e a dona já percebeu isso. Não ligou muito. Ela é jovem. Fico bolando planos mirabolantes de como tomar conta desse bar. Causar uma revolta dentro do bar onde só tem eu de manifestante. Ela gerencia mal, mas eu não tenho nada a ver com isso. Essa porra não passa nem nota fiscal, no máximo um recebinho com uma descriminação dos pedidos, e, a criminação impostal gira a roda do bolso da gorda. Acho isso errado em vários motivos. Se o país está do jeito que é, é nos pequenos erros dos ladrões invísiveis que ele se apresenta. Não sou eu que vou apontar o dedo pro miliante. Que eu saiba a gente cria nossos próprios problemas. O imposto da cerveja já vêm imbutido porque não se é “honesto” dizer ‘plus taxes’ aqui no brasil. Attica grita dentro de mim e nesse ócio de vontade de roubar o caixa 5 da gorda me lembro da minha primeira bebedeira. Pata que patiu. Ri sozinho. Eu me lembro que ainda havia meu pai e eu morava com ele. Na minha família, beber é algo de família. Quando nasci, aos 9 meses de idade foi juntado uma colher de vinho na mamadeira. “Para matar os germes que virão”. Esse é o nível dos culhões familiares. Ficar bêbado, não é uma opção. Acha que tô exagerando?  Quando alguém morre, se deve ter em casa o número de litros de bebida(s) equivalente ao peso dela em vida. Em todas as casas. Antes que pergunte, não há alcoolismo no histórico genealógico. É a única permissão aceitável de ficar bêbado é na morte de alguém. Não vou dar motivos historicos, nem culturais. Cada família, uma sentença. Hic. De qualquer forma, eu fiquei bêbado. E comecei tarde mesmo. Eu vivia numa cidadezinha e conheci esse cara que era bem mais velho que eu uns sete anos. Eu tinha uns dezesseis e andava sempre com ele e o motivo da nossa amizade começar foi porque no bar em frente á escola, começamos uma competição de sinuca. Ganhava sempre. Ele. Isso meio que uniu e outras coisas como o gosto pela filosofia, mulheres, cerveja, mulheres e um terreno baldio do lado da escola. A gente sempre ficava ali bebendo e fazendo nada. Um dia ele falou que a gente deveria fazer uma fogueira e bater um papo. Feito. Uma sexta descolamos pedaços de madeira que foram parar na garagem dele de tarde. Duas garrafas de cinzano e um vinho. Perto da meia-noite, fomos para lá. Arrumamos os paus em uma fogueira que lembrava aquelas de acampamento americano de filme. Acendemos e foi lindo. Pausa enquanto se bebe um vinho português de ótima qualidade comprado no posto 24 horas da esquina. O fogo é hipnotizante, não é? Aquelas labaredas bruxuleantes pedem para serem tocadas e o calor que não deixa você piscar é de uma necessidade de cheiros e estalos e fumos que devem ser celebrados. O fogo é uma invenção natural linda. Fim da pausa. Habemos bebuns. Bebemos tudo e ainda fomos procurar mais no posto. Mais uma garrafa e sete da manhã, voltamos cambaleando para casa e confesso pra ele que se voltar daquele jeito sem saber nem quem eu era (não sabia), porque minha língua não voltava pra boca (não voltava) e desde quando touros não dão leite (estava com essa dúvida cruel), não era uma boa idéia. Fui pra garagem do cara. Ele me jogou lá dentro. Tinha um sofá. Era quase uma bat-caverna dele onde ele vinha se esconder. Era bem arrumado e era condicionado para não haver carros, e sim, um eremita. Lá fiquei. Nos primeiros 15 minutos ou 45, no escuro, tudo girava e rodava e deitado no sofá eu apenas colocava minha cabeça do lado e vomitava. Vomitava. Vomitava. Assim foi até dormir. E acordar com vontade de cagar algumas horas depois. Me levanto com maestria para não pissar na minha bílis deitada no chão em forma de uma baleia. Procuro como abrir a garagem e não consigo. Acontece que era de mola e toda força que fazia quando ela começava a subir voltava e me empurrava pra trás. A vontade de cagar aumentava e meu pudor diminuía. Eis que me viro e tateio a escuridão que meus olhos começavam a se acostumar desde quando tinha levantado do sofá e tinha percebido umas formas redondas nos cantos da entrada no chão. Eram caixas, papelões, bolas e... latas de tintas. Não pensei duas vezes. Abri a tampa, arriei as calças e sentei na lata apenas rezando para que a tinta tivesse seca, ressecada e que não respingasse na minha bundinha de anjo devasso. Eu era praticamente um púbere. Era um anjo, sim. Me levanto descagado e aliviado e retorno para o sofá livre da minha calça. Livre da prisão livre do mundo e caio em um sono profundo. Acordo outras horas mais tarde, já bem consciente. As luzes passavam por uma greta da garagem e conseguia distinguir ou pelo menos compreender que era dia. Comecei a analizar a merda que tinha feito comigo e como fui parar ali. Vi minha calça estirada no chão perto da porta e, naturalmente, fui me levantar pra pegar. Pisei no meu próprio vômito. Tudo começava a clarear na minha mente. Reconstitui a ordem dos fatos. E tentei abrir o portão da garagem e vi uma torneira ao lado que deveria ser usada para lavar o quintal. Mijei ali mesmo. E utilizei para limpar um pouco o vômito que juntei com panos que encontrei sujos
Dei uma lavada neles e depositei na torneira mesmo. Agora o que fazer com a merda? Tenham em mente que fiquei ali umas dez horas com direito ao meu cheiro de dentro estar impregnado por fora. Eis a verdade, meu irmão. Tenho dó de mim. Abri a tampa e a tinta branca estava entre meio seca e uma crosta mole e o toletão no meio. Mas era bonito. Então, num rompante de nobreza e alto garbo fiz o que todo mundo honrado faz numa hora dessas. Toquei o fodasse. Fechei a tampa e ignorei. Que alguém lide com o côco alheio. Não vou me importar com essa obra pós-moderna. Alguém que patrocine a culpa. Negarei até o fim. Com muito esforço abri a porta da garagem. Subi a rua e nem olhei pra casa do meu amigo. Resolvi prosseguir naquela labuta no sol de tarde que me queimava a cabeça e aumentava minha dor. Crianças apontavam e fugiam. Marcapassos paravam. Cachorros enfiavam o rabo entre as pernas ao me verem. Tá, não era bem isso, mas pra mim era. Quando abri a porta de casa meu pai estava sentado na mesa lendo o jornal. Sabendo que era eu já ia começar a frase “Onde você...”, não teve coragem de continuar. Ele parou no meio e me olhou de cima a baixo boquiaberto. Como se o pé grande existisse. Deveria estar lindo. Em silêncio e ignorando outros seres na Terra fui para o banheiro. Ao fechar a porta, para minha mãe ele solta um sonoro “Puta que pariu! Você viu isso?!” Tomei banho, me arrastei para cama evitando a sala e dormi profundamente. O resto é prática de guerra. Meu pai entrou falou que era melhor ver eu assim do que entrar com meu namorado Darly. Não, não existe nenhum Darly, mas ele disse isso. Meu pai. Eis o homem e o bar vazio. Maldita terça-feira.

Dia 39 – Primeiro dia do resto da minha vida



Cheguei no trampo novo e já achei maneiro. Aparentemente, é pra trabalhar com bar. Acho que vou mais beber do que trampar aqui. Mas tá valendo. È um lugar cheio de cerveja especial ou artesanal. Nunca liguei muito pra isso... mentira. Adoro cerveja e essas especiais são do caralho. Tipo de trampo que tava precisando. Menos estressante e mais vagabundo. Só meia jornada e a necessidade especial de não ter responsabilidades que passem de entregar um projeto até segunda e perder seu fim de semana. Aqui, pelo menos, se eu perder meu fim de semana trabalhando eu já estou dentro do bar. As condições são boas e a dona. Sim, é uma mulher. Go figure. Os tempos mudam e não temos nem direito á um portuga gordão de bigode. Agora é só as gordonas metidas a cervejeiras. Fodasse. Como também. O que? Tô nem aí pros escrúpulos e não quero nem saber se isso vai ferir minha moral. Ninguém se preocupa com a aparência na hora da morte. Nunca vi ninguém morrer arrumado. Como mesmo. Ainda bem que ainda restam as padocas. A entrevista se baseou em quanto vou ganhar, a cerveja preta que nunca vi mas é deliciosa e de acordo com ela “fundo de quintal”, meus horários que são de noite. Até as 23hrs. Nunca vi bar fechando cedo assim. Outros tempos. Mas vambora. Quem tá reclamando aqui?