Os canalhas estão sempre por aí
entre os malandros.
Eles se vestem de galinhas pretas
em macumba para serem oferenda, dirigem entre os vendedores de bala com um
sorriso de quem mijou e não deu descarga. Usam roupas chiques e visitam a
favela como se fosse parte dela. Processam ciclistas que andam felizes com seus
fones de ouvido. É um insulto ser feliz para um canalha de gravata. Um dano
moral. Quase leviano. E eis então que o canalha resolve encontrar uma farda e
proteger seus canalhas da população. Ser canalha é um ato digno quando é dito
pela mulher que ama. Que chama de canalha com olhar de ‘me come’. Ser canalha
assim é amar assado. Mas, há, o canalha de olhar miúdo e sorriso debochado. Que
não abre os dentes quando lhe fala e sibila depois de dar um gole no seu uísque.
Que é canalha bebendo champagne enquanto seu marido casa canalhas apertando
suas mãos e acariciando seus bolsos. Canalhas que pedem caipirinha sem bagaço.
Que surgem com o cheiro da manhã do diesel. Eles são o diesel. O enxofre. O
negrelho. O pixe. Nós somos o dendê. A gente sabe o que é quente e frio. E
sabemos sobre catracas e rituais á fundo. Nós somos a simpatia. Nós completamos
a água porque o canalha fornece pelo cano. Nós temos o chinelo de dedo. Você
tem a burocracia. Nós somos a lei da rua, da praia, do carioca. A mulher
interesseira reconhece o canalha de longe. Foge porque não se pode sobreviver
na mesma Savannah. Não se pode desviar do tiro se o canalha aponta pra ti e que
mil canalhas caiam á sua direita e a sua esquerda se este canalha for punido.
Nunca!
Não importa. Quantos homens de
bem existam, há de haver canalhas para se equiparar. Mas saiba, não há canalhas
nessa equação o suficiente para destruir a moral e os bons costumes dos malandros.
E nós estamos por todos os lados nesse inverno. Durmam acolhidos, canalhas! Se
enrolem nos seus quatro mil fios egípcios.
Aqui fora, na noite fria, aquecemos nossos corpos com as chamas dos
pneus dos seus carros. Nos cobriremos com as roupas “doadas” por seus
companheiros canalhas. Estamos aqui até o galo despertar e seus vizinhos, cansarem da sua presença porque também são
malandros. E homens de bem. Até quando as luzes de todos os prédios piscarem
quando teu carro com placa de canalha passar. Nós não queremos que você tenha
paz. Nós queremos que você não se esqueça de que você é. Até teus filhos
perguntarem se você é um canalha ditador?
Você é um canalha ditador?
Não. Você é apenas um canalha.
Não tem capacidade de ser ditador.
E, com certeza, nunca será
malandro.