RSS Feed
Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

sexta-feira

Carta a um canalha


Os canalhas estão sempre por aí entre os malandros.
Eles se vestem de galinhas pretas em macumba para serem oferenda, dirigem entre os vendedores de bala com um sorriso de quem mijou e não deu descarga. Usam roupas chiques e visitam a favela como se fosse parte dela. Processam ciclistas que andam felizes com seus fones de ouvido. É um insulto ser feliz para um canalha de gravata. Um dano moral. Quase leviano. E eis então que o canalha resolve encontrar uma farda e proteger seus canalhas da população. Ser canalha é um ato digno quando é dito pela mulher que ama. Que chama de canalha com olhar de ‘me come’. Ser canalha assim é amar assado. Mas, há, o canalha de olhar miúdo e sorriso debochado. Que não abre os dentes quando lhe fala e sibila depois de dar um gole no seu uísque. Que é canalha bebendo champagne enquanto seu marido casa canalhas apertando suas mãos e acariciando seus bolsos. Canalhas que pedem caipirinha sem bagaço. Que surgem com o cheiro da manhã do diesel. Eles são o diesel. O enxofre. O negrelho. O pixe. Nós somos o dendê. A gente sabe o que é quente e frio. E sabemos sobre catracas e rituais á fundo. Nós somos a simpatia. Nós completamos a água porque o canalha fornece pelo cano. Nós temos o chinelo de dedo. Você tem a burocracia. Nós somos a lei da rua, da praia, do carioca. A mulher interesseira reconhece o canalha de longe. Foge porque não se pode sobreviver na mesma Savannah. Não se pode desviar do tiro se o canalha aponta pra ti e que mil canalhas caiam á sua direita e a sua esquerda se este canalha for punido. Nunca!
Não importa. Quantos homens de bem existam, há de haver canalhas para se equiparar. Mas saiba, não há canalhas nessa equação o suficiente para destruir a moral e os bons costumes dos malandros. E nós estamos por todos os lados nesse inverno. Durmam acolhidos, canalhas! Se enrolem nos seus quatro mil fios egípcios.  Aqui fora, na noite fria, aquecemos nossos corpos com as chamas dos pneus dos seus carros. Nos cobriremos com as roupas “doadas” por seus companheiros canalhas. Estamos aqui até o galo despertar e seus vizinhos,  cansarem da sua presença porque também são malandros. E homens de bem. Até quando as luzes de todos os prédios piscarem quando teu carro com placa de canalha passar. Nós não queremos que você tenha paz. Nós queremos que você não se esqueça de que você é. Até teus filhos perguntarem se você é um canalha ditador?
Você é um canalha ditador?
Não. Você é apenas um canalha. Não tem capacidade de ser ditador.

E, com certeza, nunca será malandro.