RSS Feed
Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

terça-feira

Domingo não é Andrea Doria


A tristeza é Andrea Doria no frio sem vinho, nem cerveja, nem nada.
Não dá pra improvisar, nem o mundo será um livro aberto quando se é Inverno.
O Inverno é bom por isso. Tem muito silêncio, muitos quilos a mais para te fazer companhia, melhores filmes (no Hemisfério Norte é verão nos USA, que faz o Sul ter muito filme de pipoca e é época de pipoca), tem chocolate sem grudar no dedo, tem cobertores. Têm Domingos também, longos Domingos, quase intermináveis. As pessoas não sabem a fatalidade que é um domingo. Domingo não é Andrea Doria. É pior.
É Andrea Doria com açúcar e uma cereja encima sem ter chances de afundar o navio.
Domingo é o inimigo do Inverno. Não são as pessoas que amam o calor, essas insanas. Não são os dias de trabalho quando tá chovendo. Isso a gente convive. Nem o Fog as 5 da manhã, muito menos o desgraçado do esportista que corre as sete horas em ponto usando um maldito short fosforescente que se poderia você jogava o carro encima daquele corpo saudável. É o Domingo. É o motivo de guerras. A gente quer acabar com isso. Domingo é tão ruim que o descanso dos Judeus é no sábado. Vê? Até todo um povo renegou esse dia. Porque é nocivo. Domingo deveria ser um nome de alguma doença. "O senhor está com Domingigite. Vai ter que amputar." Antes fosse...
Antes pudesse amputar.
Conheço gênios que se ressacam para suportar o Domingo.
Conheço pessoas que tomam remédios para não existir Domingo. Ao falar com elas, elas dizem "Hoje é Domingo." É um código universal. É como se fosse um erro magnânimo ter ligado no Domingo. Cogitar fazer alguma ação nesse dia. Façam algo no Domingo! Não errar no Domingo é deixar que o Domingo seja importante. Que ele vença.
Nunca enquanto estiver sob minha vigília!
Andrea Doria quer ter alguém para conversar e os Domingos estão contra você. Eles irão usar o que você disse contra você.
'Hoje é Domingo.' Não sairei? Não viverei?
Viva! Saia! tome sorvete no Inverno no Domingo para desmotiva-los.
O Domingo não manda na gente.
E, assim, enquanto nos revoltamos contra os Domingos, seremos livres. Livres para justificar ficar embaixo da coberta sem ser obrigado. Por opção própria. Por acordar, almoçar e voltar a dormir. Por opção, dar banho no cão e lavar o carro. Por opção!
Daremos aos Domingos significado para podermos odiar um novo dia:
As Segundas.

sexta-feira

Julia, sabe o Sergio?

Julia, sabe o Sergio? Ontem ele morreu.
Fica calma. Tá tudo bem. Ele só morreu... Foi assim. Era meio-dia e ele tinha olhado pro relógio, a gente tava atravessando a rua, ele tirou o fone de ouvido e olhou para mim. Na hora, eu percebi. Ele tinha morrido.
Agora ele tá bem. Não chora não. Uma hora você também morre. Comigo? Você nem quer saber o que ele tava ouvindo? Foi na praia, eu tava correndo na praia. Vi um cachorro lindo passeando com uma senhora toda tatuada. Aí eu parei pra tomar meu fôlego e enquanto eu olhava entre meus pés me apoiando nos joelhos, morri ali. A gota que caia da testa era cada gota que morria de mim. Não. Não é assim. Eu acho. Lá no fundo, no fundo do poço ainda sempre resta um pouquinho.
Isso acontece com todo mundo... até gente nova. Meu sobrinho que brincava com vocês no quintal lá de casa. Isso, o loirinho. Morreu com oito anos. Ele simplesmente chegou em casa e o gato tinha sumido para nunca mais voltar. Ele morreu aos bocados. Mas logo depois, pegou o lápis de cera e coloriu um arco-íris na parede do corredor. Criança é bom. Morre que nem sente. Ou sente, mas o poço tá mais cheio.
Tá mais calma? Eu sabia. Existe um fogo que nunca se apaga. There is a light that never goes out. Era o que o Sergio tava ouvindo. Irônico, né? Sempre teve trilha sonora na vida de todo mundo vivo.Eu também ouvia. Eu tava correndo, lembra? Num vou falar tenho vergonha. Tenho vergonha, Julia. E morri faz pouco tempo. Não quero saber de contar qual música do Milton tava... Ai merda. Você vai usar isso contra mim. Você vai. Jura? Julia jura? Jura Julia? Tá. Saídas e Bandeiras.
-
--
---
Já deu? Segura o riso um pouco. Grato.
Vem comer aqui em casa amanhã. Tem camarão. Trás cerveja. Julia. Todo mundo morre por dentro um dia. É só questão de tempo e escolha. Mas acontece com carinho e dói bastante pouquinho. É tipo aos puxadões e não parece da dor boa de cama de enfermo nem de trepada. Apenas dói.
Hora do almoço. Julia! Julia desliga não!
Sabe aquela flor que plantei no meu jardim? Acabou de nascer.