RSS Feed
Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

terça-feira

Dia 87 - O Velho

Quando a luz voltou, seus olhos estavam meios cegos pela claridade e na sua mão esquerda ele sentia uma bola pesada de lona, como uma bola do tamanho de um punho dessas de velhas que usam para crochê e que gatos teimam em se enrolar.
O frio vinha assobiando por baixo da porta da entrada de casa...
Da janela com os braços meio fechados, pelo vime, ainda se via lá fora as luzes do fim do dia que se esvaia...
O som de alguns cães brincavam na rua. As crianças se endiabravam com o jeito engraçado de pular e morder dos vira-latas que babavam.
Cós de calças rasgadas e blusas sujas de suor. 
E o velho lá.
Os cabelos vermelhos das moças jovens pegavam carona com os abraços dos namorados, era o mesmo cheiro das acácias do jardim.
O café já bulia quente no fogo e jé empesteava a casa.
E o velho lá.
Seu coração calmamente foi se fechando, como uma craca que se finalmente assenta numa carcaça de um navio que chegou ao fim de navegar e ali, fica. Parado á beira do mar. A navegar com o solavanco. A solavancar o navegar.
Como um totem de um bastião negro o velho ficava com sua barba branca parado.
Sua mão calmamente se abre e a bola de lona rola. Um pequeno ser de petas negras e olhar manso vem miando pelo chão carmim de azulejos. Ariarranha o novelo olhando para cima. 
Se para um pouco. 
O café apita.
A acácia cheira.
os cães rosnam.
As crianças riem.
O velho lá.
Dorme.