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Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

quarta-feira

Hasta Luego Siempre

"Dez pesetas e nunca mais você toca punheta, chingo!" Henry estava bebâdo, segurando uma garrafa de rum sentado na quina da murada da praia com uma sacola cheia de limões. A lua brilhava sobre as águas de Varadero, refletindo o brilho da lâmina que cortava mais um limão. Atrás de nós, o mural com Che sorrindo para uns companheiros sem camisa, cobria o pano de fundo da noite mais quente e tranquila que já tive em Havana. Uma foto tirada na mesma praia e com o "Motto" nacional: "Hasta la vitoria siempre". Mas alguém riscou "la vitoria" de Castro fora e pixaram trocando por Luego. Henry era Juan, mas se achava mais um desses Cubanos que foram influenciados por Miami, porque Miami é um país aparte aqui, e virou um dealerzinho de prazeres cubanos que até o nome que ele apresentava era diferente. Um verdadeiro marginal de péssima categoria. Conheci me oferecendo puta, charutos, água filtrada e benzida, uma criança cega, rum, e, um passeio no terreiro de Santeria. Tudo que ele é eu desprezo... Mas a Santeria era algo único e eu já tinha houvido falar sobre isso antes. É uma macumba bem mais jamaicana do que qualquer outra coisa. Um Vodu de terreiro de faca preta, chão triscado, galinha sem cabeça, sangue e rum. Muito ruim. Lá, eu fui acompanhando seu inglês horrível achando que eu era gringo. Não deixo de ser. Mas brasileiro nunca é gringo. Pelo menos, eu achava.
Me apresentou pra uma senhora gorda com olhos negros como a noite, seu olhar era de desolação, me olhava como se eu estivesse perdido.
"No hay nada como la incertidumbre del corazón."
"Que dizes?"
"Sus manos..."
Eu entreguei minhas mãos e entramos num descampado. Uma negra linda rodava banhada em sangue, os tambores batiam junto com o compasso do meu coração. Eu suava. Cuspiram Rum em mim. Fumaram envolta. E ela dançava. Eu não conseguia falar mais nada. E ai veio o velho Gerges. Eu não sabia que eu sabia quem ele era, mas eu sabia. O velho Gerges. Me disse apenas uma palavra. Beba. E como um comando mágico, eu bebi. Uma mistura negra. Um gosto de terra. E eu dançava. Rodopiava. Eu não era mais eu. Eu era gringo. Era Gerges. Tinha peitos, depois era negro. Tinha metros de altura e larguras de consciência. Eu suava. Eu suava. Engolia a língua da negra com seus tufos cacheadas e sua boca cor de romã. Eu rodava.
E acordava encostado na mureta. Ao lado desse traste de pessoa. Com uma negra deitada no meu colo olhando para meu corpo nu, com o olhar fixo no meu pau. 
"Dez pesetas e nunca mais você toca punheta, chingo!"
Eu tentava desviar meu olhar dela, dele, da praia, e, só pensava que se essa era a noite mais tranquila aqui, penso nas últimas 26 noites. E saber que vou embora em alguns dias. Será que eu volto? Então, cabe contar as noites com detalhes. Sem ter medo.
Mas já sei que sentirei falta daqui. Da negra muda deitada no meu colo. Do Salazar e sua comida excelente, o jogo de beisebol que se estendeu com a força nacional. A politica. O rosto do Guevara estampado em todos os lugares. O orgulho. Caró. Midas. 
Eu vou embora e leio ainda embriagado e enjoado:
Hasta Luego Siempre.