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Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

segunda-feira

Dia 32 - É Assim Mesmo

A chuva caia torrencialmente sobre os dois. De terno ajoelhado e apontando a arma para Carlos Alberto. Aquela rua fria da china, aquela chuva escondeu o propósito principal: Vingança. Vingança para matar a si mesmo. Desde quando descobriu que tinha um outro como ele. UM outro ele, Carlos Alberto resolveu se vingar. E aqui, agora, Carlos, o medroso apontava para Alberto, o macho que sorria na chuva. "Atira." Ele disse para si mesmo. O gatilho ressoou mudo mas o sangue se minguou e águou.
O medroso venceu.

É Assim que termina o livro. Depois de dois dias de leitura e dezessete ligações no meu celular. Quase quatrocentelhas de páginas. Interessante. A história é de um cara que não tem motivação e decide encontrar a si mesmo, mas no meio do caminho... ihh, cacete! Catorze chamadas não atendidas do Padawan.
Uma desconhecida e duas da Pequena Sereia. Fudeu, pra ligar assim deve ter acontecido algo. Tô falando da Pequena Sereia. Quero mais é que cueca espere. o Padawan é meio neurotico. Se você fala que vai tomar um copo de merda. Ele pergunta quinze vezes se tem gosto de galinha. Ele tá meio assim com o livro. Quer saber que gosto tem. Tem gosto de um copo cheio de merda. Mas no bom sentido.
Mas isso ele ainda não sabe e vai ficar sem saber porque ela me ligou fodamente. Pô, ligar mais de uma vez pra mim, sendo mulher, é foda.
Tô sem crédito. Tô sem vontade de levantar. Fiquei esses dois dias lendo e bebendo. Tocando uma também. Mas acabou o estoque de bebida, páginas e porra.
Tá na hora de ir atrás de algo. Rapidamente.

sexta-feira

Dia 30 - Padawan


Da Bílis ao Pâncreas é apenas uma retenção. Esse é o título do livro do Padawan.
Agora é a hora de falar do Padawan. O cara era amigaço de uma mulher que eu comia, ai a mulher me falava sempre dele. Não dei bola, pode comer quem quizer, acabou que numa briga no meio da Lapa, cinematográfica, diga-se de passagem, eu e ele acabamos um do lado do outro contra quatro seguranças. Moral da história: estamos vivos. Porém, até hoje minha rótula faz um cleck estranho.
Quando corremos... sim, corremos... em direção á muvuca mais próxima pra se dissipar da porrada e dos canas resolvemos ir numa banca de drinks toda iluminada. Rindo de tudo e meio resfolegante, descubro que o antônio faz agronomia, gosta de cinema e todo mundo chama ele de padawan, por causa do rabinho pendurado na cabeça raspada. Unica vestígio de cabelo remascente. É tipo um dread.
E também, por causa do vício em star wars. Ele têm o símbolo rebelde tatuado no tornozelo. Não me recordo qual. Aí, passada a tensão e o anúncio, meio que olhei pra ele e me baqueou um ciúme bobo.
Eis que dois anos depois, ela vazou. Ele ficou mais meu amigo do que dela. E agora tô aqui com o exemplar do livro publicado em mãos. Na assinatura tá assim, "Para o Zé.Zé buceta mais escroto e mais irmão que já podia ter. Bom que escolhi, né? Abraços, A.K.G."
Nunca entendi o sobrenome dele. É uma mistura de duas nações colonizadores e um império neolítico. Se é que isso existe. Anyway, tô aqui deitado com uma capa toda branca com duas gotas de sangue e o título em alto-relevo.
Ele se deu bem. Estava num bar fraseando umas poesias e um cara falou que duvidava que ele repetisse isso tudo de novo. Padawan olhou pro cara, olhou torto, mas olhou pro cara. Pegou uma porrada de guardanapo e uma caneta. Escreveu 15 páginas de uma viagem.
Não era poesia. Era o começo desse livro que ele nem tinha idéia do que era. Nem tinha pensado em livro. Nem tinha pensado em nada. Só escreveu.
Acontece que o cara gostou e falou torto também que era uma ótima idéia e que ia vender bem. Pegou o contato dele e agora um ano depois, o bagaio é publicado. 20.000 exemplares pra começar.
É como diz aquele ditado: O ébrio escreve certo por linhas tortas.
Abro a primeira página e o telefone toca. Não vou atender. Vou ficar aqui lendo isso.
"Espero que isso doa mais em você do que em mim." Disse Carlos Alberto ao enfiar o pulso quase inteiro no rabo de Leonice. Ele em prantos, só pensava na cavalgada das valquírias. Ela, no quanto ainda aguentava.
Leonice era moça e essa era sua primeira vez com Carlos depois que ele finalmente aceitou o fato de que nunca mais poderia ter uma ereção na vida depois do acidente. Agora, ele chorava toda vez que tinha uma excitação sexual, mas não tinha volúpia. Não tinha movimento. Não tinha ação.
Ele pensava em sexo, pelo menos, sete vezes ao dia.(...)"

Começo poético, não? Já vi que a noite vai ser longa. Melhor fazer um café.

quarta-feira

Dia 28 - "Pensei que fazia Química."

"Arquitetura."
"Serio?"
"Serio. A tattoo é só pela fórmula. ia fazer da caféina, mas quando vi um cara num vídeo com cara de retardado com a mesma, desisti."
"São fórmulas diferentes. Uma é matemâtica e outra é química. Não têm muito á ver."
"É... E daí? Me deu vontade de fazer e eu fiz." Culhões. Isso é o que existia do outro lado da linha.
Pelo vistos, eu liguei. E foi e está sendo bom. Enquanto eu escrevo isso eu olho pra ela dormindo com seus cabelos pretos bem cortados e o perfume. Chance, eu acho na minha pele.
Ela nunca ouviu Blues. Não entende nada de jazz, mas gosta do John Lee Hooker. Ela agora tá nua atravessada na cama num sonho profundo. Os peitos dela são lindos e batem de longe o da 'peitos de menino', que por coincidência e estória retro-pós-parecida, estão lá pelos mesmos motivos.
Além do símbolo químico, na parte onde têm uma marquinha de biquini quase apagada têm outra tattoo. Um planeta estranho. E no pulso, um cometa com um menino encima. O Pequeno Príncipe no corpo da pequena princesa, porque eram saltos mesmo.
Ela toca guitarra pra encher o saco da mãe. Sabe jogar video-game. De tiro. Bebe bem e dirige mesmo com a visão turva e passou a última madrugada depois de muito sexo, deitada no meu colo assistindo filme enquanto tocava uma pra mim.
Você, cara, vou te dizer... Não sei porque tô te falando essas intimidades cheias de nerdices transviadas, mas eu quero.
Ai, nos fomos beber vodka. Tá. Eu juro que queria beber outra coisa. Mas assim que a vi, ela me deu um beijo tão erótico e gostoso que se me convidasse pra uma seita satânico com direito a sacrificio meu, eu aceitava. Até beber gasolina.
Louise. Soa pomposo. Mas, eu gosto.
Bebendo nesse lugar, eu acabei conhecendo um gringo estranho que mora aqui no Brasil há 20 anos e ele têm esse bar meio isolado. Como estava bêbado me deu vontade de conhecer e lá fui eu com a mina de tira-colo. Achei que ela ia cagar no pau por ser um desconhecido.
Ela tava era mais tranquila que eu, que quando chegamos no endereço do Austríaco, era uma rua meio deserta bem na entrada de um morro. Gringos. Go Figure.
A porta era de madeira, daquelas enormes numa casa de pedra, daquelas antigas que parecem que vai cair em alguns minutos. Ao bater na porta, o gringo foi recebido pela suposta mulher, fiquei mais tranquilo por dois motivos. Não tava afim de ser coagido por um gringo a comer a pequena princesa junto com ele e se agora rolasse, pelo menos tinha outra no meio. Mais sussa, mas não queria dividir ela com ninguém. Tudo dentro era reformado. E frio. Bem frio. Mas tinha bastante gente e um palco onde um piano de calda enorme dividia o pequeno espaço com dois músicos. Um na guitarra e outro na gaita.
Meus olhos brilharam ao ver aquela fumaça de cigarro em volta e as cervejas rolando ao som de um blues tradicional do Delta.

Ela adorou. "Nunca ouvi jazz ao vivo." Ela sorriu e me olhou e apesar da minha primeira impressão, descobri ao olhar aquele momento pra ela que não havia nada de extraordinário nela. No sentido de riqueza, eu digo. Ela era filha de alguém que a mimou. Mas, inteligente, curiosa e esperta, essa porrinha de 1,68 cm sabia mais que muita mina cult que já conversei.
Não era patricinha. Não era pomposa. Mas eu ainda gosto do nome e ainda vai se chamar Pequena Princesa. Minha mente. Minhas regras.
Era o que deveria ser. Alguém curiosa, com cheiro bom e vontade de sexo. Que mesmo bebendo á veras, não fica com cheiro de bebida. Acho mesmo que desse fim de semana ela não sai daqui. Primeiro que não deixo. Segundo porque ainda têm um tempinho pra me cansar dela. 
Peraí, tô divagando. Acontece que o Austríaco doido botou bebida pra gente pacas. Não pagamos. Vai saber porquê. E ele ainda queria que a gente ficasse por lá. Seria bom, começar um trabalho mais sossegado num bar desses. Na verdade, se eu me lembrasse onde era. E não tivesse apagado e acordado com um mulher linda encima de mim dando bom dia enquanto subia e descia me mordendo e me beijando, eu iria lá.
Dane-se. Ainda bem.