A mulher da recepção
improvisada que eu acabo de conhecer tá tentando me convencer em adotar um
filhote de cachorro. Eu só vim me inscrever na academia. Parado por mais de
anos com a desculpa de que meu joelho é fudido do lado direito. Mas, na
verdade, a culpa é do joelho, da cerveja, das noitadas, da minha mania de achar
que o melhor exercício é sexo e tentar fazer ele na maior quantidade possível
quando namoro. Um dos motivos também por não fazer academia. Ela me fala da
casa em frente à academia que a cadela deu luz á oito filhotes, mas já morreram
três que fugiram da casa. Por algum motivo, eu ouço a história toda sem quere
interromper ela. Não tô querendo ser simpático só não tô querendo ser chato. Eu
fico esperando ela falar e terminar, olhando de tempos em tempos pra casa, pra
bunda de uma negra que só tem bunda e toda ela é feia malhando, e, aos
comentários que ela tece. Na verdade, eu até pegaria um filhote, mas tenho um
cachorro em casa. Ela diz que já tem cinco em casa. O meu é um Golden Retriever.
Todos dela são vira-latas. Por algum motivo, eu me sinto esnobe e quase na
obrigação de pegar um vira-lata, da mesma forma, que quando se está no metrô e
você tem de se levantar para dar o lugar para uma idosa mesmo que você tenha
passado um dia estressante e cansativo. Mas eu escolho ficar sentado no banco e
digo que realmente eu não posso pegar com a vaga desculpa de que minha mãe pode
me matar. O que pode ou não ser verdade. Mas, finalmente ela passa o meu cartão
na máquina, eu escolho o horário mais barato para usar a academia. Um tal de
Marcelo é um dos personal trainers da academia e ele me mostra a modesta
operação... Os instrumentos pesados ficam numa sala direita e os aeróbicos
misturando com alguns outros tantos de musculação ficam no esquerdo onde é a
entrada. Tem uma música dessas de academia e descubro que tá tendo aula de
spinning no segundo andar. Mal quero entrar para não causar nenhum incômodo e
também por vergonha. Explico calmamente sobre meu joelho enquanto ele mostra o
resto da academia que é toda acolchoada com espumas que formam um grande
quebra-cabeça azul. Subo e a negona da bunda tamanho carro forte tá fazendo
exercícios de bunda. Resolvemos intuitivamente que ali é o melhor lugar para
terminar e continuar o papo. Ele ouve e marcamos a primeira sessão de manhã.
Eu dou boa sorte pra
dona dos cachorros e doadora estimulada. Saio com uma leve impressão de que ela
é simpática demais pelo fato de querer ser simpática ou que só queria que eu
tentasse levar um. Dentro da minha cabeça, já tinha desistido antes mesmo dela
tocar no assunto. Eu voltei pra cá para descarregar malas, voltei pra um lugar
bucólico, onde nada acontece e não vou agregar nada mais comigo daquilo que já
tenho. Não sei o que posso fazer. Mas vou continuar...
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