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Os dias são contados. O Tempo passa. E se caminha cada vez mais como se fosse um diário de um eunuco.

terça-feira

Dia 85 - O que dói?



Quando eu morri também não doeu nada. Sério. Acordei nove dias depois do coma sem sentir nada.
Sem sequelas, sem dor. Pra dizer a verdade, bicho. A minha mão aqui. Essa. A direita. Doeu demais.
Mas depois veio o apagão. Ficando tudo preto. E eu fui embora.
Aqui na testa, meu cérebro saiu tudinho. Senti a massa Cêfalica saindo... é isso né? Cêfalica.
A porrada foi tanta. Eu tava onde tu tá ai, nego. Sentado no banco do passageiro.
Veio a caminhonete de frente. Era um Reboque. A luz cegou a gente, deu pra dar uma guinada pro lado e desviar, mas ela trazia um motor de carro.
Acho que era de fusca. Porque era muito grande. E você sabe como é esses monstros fabricados antigamente. Coisa de Primazia e gigantismo. O motor se soltou das correntes e veio voando no nosso carro. Quebrou capô acertou o vidro em cheio entrando na cabine. Quebrei todos os dentes da frente.
Cuspi dente, sangue, senti aquele gosto na boca, na garganta. Sabe aquele zunido. Foi ai que tentei olhar pro lado mas não conseguia. Começou a escurecer, escurecer...
Senti a minha testa, tinha um rombo aqui. Ah, a foto do acidente tai no porta-luva. Abre ai. Oh, tá vendo. Foi bem aqui que entrou o motor e fudeu comigo. Minha mão foi prensada e foi essa dor que senti. Tentei olhar pro lado. Só vi a mão dela tentando segurar a minha. O velório foi feito sem mim. Enterro sem mim. Eu acordei e não tinha mais nada. Tristeza? Dá no começo. Um vazio. O que dói mesmo não é perder a pessoa, eu nem chorei.
Mas o que dói é não me lembrar de como ela era. Isso dói.

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