Faz uns dois meses que a gente não faz nada. Eu e meu pau. Estamos
em recesso condicionado. Primeiro pela porra da minha mente que não me deixava
nas primeiras semanas. A pior merda que existe em se apaixonar por uma princesa
é que depois todo o esgoto do feudo está na sua porta. Todo mundo te olha como
se fosse o plebeu que achou que ia se dar bem. Todos querem sua queda. Sua derrota.
E você fica comendo batatas e sorrindo pra si mesmo dizendo tá tudo certo, tá
tudo bem. Tudo bem é o caralho.
Pra começar quando você deixa de beber algo tá ruim. Eu fiquei
sem beber por um bom tempo e por mais que estivesse desistido dessa ideia
fajuta de ficar nos bares, eu ainda bebia e não foi consciente a decisão. Foi algo
parecido com a necessidade de tentar se justificar subconscientemente. Eu quero
que se foda esse desejo íntimo todo.
Segundo, quando me recuperei disso tudo e os copos voltaram
a ficar cheios, só tinha os copos e eu perdi o tato. Perdi o tato de como comer
alguém. Perdi um pouco a vontade também. Eu peguei uma mulher de peitos e bunda
farta. Essas falsas-gordas. Que na verdade são muito gostosas e que precisam de
mais de um vestido e um olhar muito atento de um homem para ser notada que é
gostosa. Mas não é maldade. É a mão da Mãe Natureza. E ela queria dar pra mim. A
gente tinha marcado dia, hora, momento e até o que ia ser. A prévia do boquete
noturno numa rua deserta de postes amarelados confirmava isso. Mas eu pulei
fora. Disse, estou ocupado e não tô muito afim. Não é você. E não era mesmo.
Era eu.
No começo, quando fui expulso do castelo, foi só contar para
um conterrâneo no vale da solidão que todo mundo ficou sabendo. As notícias
ruins se espalham rápido pra caralho. E ai voltou muito rápido o passado. Ai
num dia, coisa que só acontece quando a gente não tem coragem nem de olhar pra
própria sombra, uma loirinha linda que era cheia de intensões queria passar a
tarde comigo. E ela queria dar pra mim. Eu sei que quando eu disse não, eu já
sabia que ela não pediria de novo nem ofereceria alguma outra vez. Ela é desse
tipo. E ai tem a mineira que deve fuder muito bem e ainda tá por aí. A mineira
disse que podíamos andar pela praia, bater um papo e depois você poderia dormir
lá comigo. Você vem? Oi. Eu ainda tô esperando sua ligação, pode ligar quando
quiser. Hey, não sei se você recebeu minhas outras mensagens, mas eu sei como é
foda essas horas, eu to aqui em casa e aluguei um filme. Passa aqui. Eu só
respondi a última. Fica bem. Fico sim.
Agora eu estou curado, vivendo no mato, longe daquela merda
de cidade e castelo falso. É bem distante e sinceramente me sinto melhor na
Natureza. E têm algumas tribos aqui que ajudam a melhorar a vida na Natureza. E
agora eu quero comer. Onde estão essas pessoas?
Precisei desse tempo todo pra poder me abrir com essa merda e tentar não me suicidar nessa cidade-fortaleza. Precisou eu talvez esquecer um pouco do que preciso fazer antes de fazer o que me cumpri a fazer. E precisou do telefonema. Precisou ir vê-la. E talvez eu teria riscado da lista mais um desejo. Mas ela foi me ver depois que eu desliguei o telefone. ela deve ter se levantado chorando e soluçando e deve ter ido assim a viagem toda até a rodoviária. Deve ter sorrido levemente pensando que agora eu tinha voltado. E eu menti. Ela deve ter parado lá e me procurado um tempão.
Eu sumido.
Eu não existido.
Eu merda.
1 comentários:
Não curti, achei um pouco confusa a narrativa ! não consegui acompanhar, pode ser restrição minha, mas fica ai a opinião (sincera pelo menos)
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